Infantrilhos

Somos um grupo de amigos residentes no Infantado, concelho de Loures, unidos pela vontade e pela paixão da prática do BTT, desde 1996, em busca de momentos intensos de aventura, convívio e descoberta do melhor que a natureza nos tem para oferecer.

domingo, abril 30, 2006

Peregrinação à Nossa Sra. do Socorro

Desta vez a malta madrugou para proceder à famosa peregrinação à Serra do Socorro. Esta clássica do grupo Infantrilhos já não era realizada há muito tempo, pelo que se notava que a expectativa era enorme.
A volta iniciou-se lentamente, como tem sido apanágio dos últimos passeios, com a já habitual “Brigada dos Canhões” a impor o “seu ritmo”* na vanguarda! O Gps assim o obrigava.
Até à Póvoa da Galega trilharam-se caminhos conhecidos. Depois, foi uma aventura. Com a Serra do Socorro como pano de fundo, os trilhos iam sendo transpostos facilmente.
Num deles, vi o da objectiva (Paulo Borges) a sorrir, no meio dos arbustos, à espera de um “momento mau”. Para lhe fazer a vontade, desmontei… Fiz isto umas cinco ou seis vezes durante o passeio, para ter a certeza que alguma foto haveria de ficar com qualidade. Portanto, se virem alguma, já sabem…
Também assistimos a uma espectacular demonstração do Henrique! Mostrou ao pessoal como se transpõe um rego … de gatas! Lindo… Foi o Farelo que te ensinou?
A média quilométrica estava a ser boa até pararmos num forte das Linhas de Torres, um pouco antes da maior dificuldade que nos esperava.
Aqui, assistiu-se a um festim de pândega de alguns elementos que tinham trazido o farnel de casa. Contudo, o L-Glutamina limitou-se a ingerir um litro de algo que jurou a pés juntos ser legal. No outro dia vi num documentário uns detritos do urânio que estão a enriquecer no Irão. As semelhanças eram imensas…

A visão da Serra, aquele pico imponente, teve efeitos diversos nas diferentes criaturas. Enquanto uns ficaram mais empolgados, outros começaram a rezar as primeiras orações do dia.
A vertente escolhida para a ascensão era bem acessível, mas provavelmente haveriam outras bem mais “engraçadas”! Provocariam, certamente, momentos bem hilariantes!
As dificuldades iniciaram-se após um cruzamento perto da A8. Aí, cada um impôs o seu ritmo e lá se foi escalando, mais ou menos penosamente. O aroma dos eucaliptos é uma maravilha, nesta época primaveril e a paisagem proporcionada por esta vertente quase que nos impulsiona para cima. Após um troço muito técnico, com algumas rampas íngremes onde abundam regos e calhaus, entra-se na rampa em paralelo que leva ao topo. Aqueles 300 metros finais são demolidores, sempre acima dos 15% e onde o constante saltitar proporcionado pelo piso em nada ajuda.
Nesta fase, ao abeirar-me do precipício, vi os restantes peregrinos “perdidos” encosta abaixo, cada um por si, carpindo as agruras da subida. À frente, seguia o Hugo (deixei-o ir na frente, para ele ficar contente).
Após a curva para a esquerda e pronto para atacar a última rampa que leva à capela, estiquei a camisola, endireitei o capacete e ataquei a dita em pé, com toda a força. No topo, levantei os braços com um sorriso estampado, à espera de ver o fotógrafo de serviço de objectiva na mão, imortalizando tão magnífica prestação! Só depois me apercebi que esse ainda vinha bem longe, lá em baixo… Entristecido por este momento tão desmotivante, dei meia volta, e fui serra abaixo atrás do Hugo (é complicado redigir sobre a subida que realizou, pois ia uns míseros centímetros à minha frente, mas como ia muito depressa, pareceu-me bem mais cansado do que eu!).
Encarei com o magnífico Isidoro que atacava a última dificuldade com valentia … o sorriso estampado no rosto … a gola bem direitinha … só depois se terá apercebido da ausência do fotógrafo!
Logo atrás, com pose de gladiador, vinha o Biker! Era evidente que vinha no encalço da presa (Isidoro), pelo que para ele foi boa a ausência da objectiva para a posteridade. A carantonha com que vinha não seria a mais recomendável…
Ao descer um drop ainda vislumbrei uma luta titânica entre o L-Glutamina e o Paulo Borges. O primeiro, gastando os últimos vestígios de “gasóleo”, lá ia resistindo à captura; o segundo, ia olhando o conta-Km e fazendo contas à sua progressão, aplicando o conveniente handicap!
Continuei a descer e já no empedrado deparei com um duo em “ritmo vegetal” (Ricardo e Henrique). Acenei, sorri, esbracejei, disse-lhes que já faltava pouco … e eles nada! Nem pestanejaram!! Iam em reserva de calorias, com toda a certeza!
Depois … uma visão horrenda!! Um bom pedaço atrás, onde a inclinação se acentua, uma carantonha de bradar aos céus!! Era o Álvaro!! Vinha a balbuciar qualquer coisa (… este volante … e tal … que é grande …). Quando me viu, desfez a careta, abriu aquele seu sorriso tão característico e sem eu nada lhe perguntar, respondeu: “Vem gente lá atrás!!).
Fiquei abismado! Como era possível! Já estava quase no sopé da montanha! Mas, na dúvida, continuei a descer. Ao passar por ele tive de me desviar da pesada âncora que arrastava…
E lá voltou ao relambório do costume (… é que é o raio do espigão … e tal … que o banco …e não sei quê …).
Era a âncora, rapaz, era a âncora!
Já no caminho de terra batida pareceu-me vislumbrar, ao longe, um peregrino, de joelhos, serra acima, carregando uma enorme cruz! Isto há cada um…
Após mais algumas centenas de metros, numa curva, encaro com o dito! Era o Paulo Sousa! Não vou aqui descrever a sua expressão por respeito às mentes mais impressionáveis. O Hugo, assustado com tal silhueta, fazia-lhe companhia. O gajo nem tugiu nem mugiu! Estava mais vegetal que o eucalipto ali à beira da estrada. Dei meia volta e meti-me ao seu lado. O Hugo arrancou no encalço do da âncora.
Eu, por ali fiquei. Lá fui fazendo um monólogo para passar o tempo, pois do outro ser … nem um piu! Ao entrarmos no empedrado fui-me divertindo a contar os paralelos! São 117.596 até lá cima! Também observei pelo menos sete espécies diferentes de escaravelhos!
A dado momento afastei-me dele para o deixar respirar. Se estivesse a menos de 3 metros era capaz de ser “sugado”, tal era o arfar!! No topo, ainda lhe disse que o fotógrafo (agora já lá estava!!) estava “à coca”, para limpar as lágrimas e a baba que lhe escorria abundantemente! Mas fiquei com a impressão que ele estava a ser atacado por algum tipo de paralisia, pois não esboçou o mais pequeno movimento.
No alto, já em momento de relaxe, lá se ouviram as piadas do costume: “… o Hugo é mau…”, “… o Pinto tem asas…”, “… que afinal era a escora…”, “… pelo handicap vou em segundo…”, “… que a urina queima a sanita…”, etc, etc…
Enquanto isso, num cantinho mais recatado, o L-Glutamina deglutia avidamente o quarto litro daquele líquido saudável!!

Iniciou-se o regresso às origens com a descida da montanha a grande velocidade. A meio perdi-me, mas consegui guiar-me pelo rasto de destruição deixado pelo suor do L-Glutamina! Pelo sim, pelo não, tive o cuidado de não por os pneus em cima “daquilo”! Foi por isso que me atrasei…
Gostei mais dos trilhos de regresso que dos de ida. Foi curiosa a passagem de nível e o trilho que se lhe seguiu. O tal onde o Ricardo (primo do Isidoro) conseguiu “arrancar” a haste do quadro! Deve ser da costela familiar. Esses pedais são para tratar com jeitinho…
No limite da freguesia da Sapataria, quando subia a rampa de Moitelas atrás do Hugo (por opção), ia com a vã esperança de me aparecer o tal tractor de que o Álvaro tanto fala. Aí é que ele ia ver! De repente, ouvi um som grave atrás de mim! “Aí vem ele…” pensei. Olhei sobre o ombro, numa réstia de esperança... Mas não… Não era o tractor… Era o Isidoro em pé sobre os pedais, a dar-lhe com tudo.
Do topo, ainda deu para ver o Álvaro a olhar para tudo quanto era sítio à procura “dele” … mas desta vez a sorte não lhe sorriu.
No alto, despedimo-nos do Paulo Sousa (Jasusss!! Que cara!!) e do L-Glutamina (tinha de ir por causa das horas … mas, reparei que tinha os bidões de urânio vazios …) que continuaram por asfalto.
Seguimos por uns trilhos no topo dos montes, com magníficas paisagens e onde a pedra rolante era rainha! Bem difícil para quem não tinha suspensão total. Nessa fase, numa descida, ouvi atrás de mim uma lamúria “… e não sei quê … o pneu …”, abri para a direita e passou o Álvaro na brida… Não sei como o fez, mas quando olhei para trás era eu que arrastava a âncora!!
Até ao Freixial foi sempre no “prego”.
Nesta fase, diverti-me bastante com o Álvaro! Ora arrastas tu, ora arrasto eu…
Já no Freixial, quando nada o faria supor, ao atacar uma “parede”, o som brutal de uma manada em fúria ecoou atrás de mim! Olhei… Era o Paulo Borges … estatelado! Aquele som … nunca o esquecerei!! Quem cai com um baque daqueles tem de levar um bónus no handicap. Felizmente, apenas restaram uns arranhões no cotovelo, no joelho … e na alma, por não ter ultrapassado o pequenito que seguia na frente! Como viste, não é para todos! Piu!
O Isidoro e o Ricardo tiveram de tomar um caminho alternativo, pois os afazeres profissionais assim o exigiam.
Voltamos a montar e eis senão quando o Henrique começa a falar de bifanas e boémias e não sei que mais… Pronto, caldo entornado… A partir deste momento não ouvi o Álvaro falar de mais nada senão de bifanas e boémias… Nem quando perguntou como se ia para Fanhões e ouviu a implacável resposta se queixou! A última rampa seria subida a … pensar na bifana!
Ao atacar os cowboys livrei-me de vez da maldita âncora. Passei pelo Álvaro que falava de mostarda e alguns molhos do género, pelo Paulo Borges que ia a fazer contas de handicaps sobrepostos e acumulados (idade, arrobas, pedaleira, tombo, joelho, cotovelo…), pelo Henrique que implorava por comida, pelo Biker que jurava sentir-se nas últimas, mas continuava a pedalar. No final, tinha o Hugo à espera, que me disse para apertarmos no ritmo, pois sentia as pernas pesadas por andar devagar! Pois… Como é que é mesmo?! Onde está o tractor?
Decidimos rumar ao Infantado, para comer e beber algo no Nanni. Que bem soube aquela bifana…
Espero não esperar mais um ano para realizar de novo esta clássica. Numa só palavra: fabulosa!!

Nesta romaria participaram os seguintes peregrinos (por ordem invertida de chegada ao topo da Serra do Socorro):
Paulo Sousa, o da cruz; Álvaro, o da âncora; Henrique, o boémio; Ricardo, o tractorzinho; Paulo Borges, o do handicap; L-Glutamina, o nuclear; Biker, o gladiador; Isidoro, o tractor; Pintainho, o do “paralelo”; Hugo, o “fraquinho”.

Este giro foi realizado a 29 de Abril de 2006, teve uma extensão de 66 Km à média de 13 Km/hr.

* - Aprox. 17 cm/segundo

Pintainho

8 Comments:

At 3:10 da tarde, Blogger Infantrilhos said...

Espectacular descrição do passeio! Transporta-nos para toda a emoção. Até gostei das bocas, principalmente aquelas que têm a ver comigo. A propósito; não te gabes, pois o Isidoro, esse sim, tem todo o mérito da ascenção. Aliás os detalhes, deste ou daquele "acontecimento" nada valem porque, não te esqueças, nada é como começa é como acaba! Mais uma vez parabéns pela crónica. Uma das melhores que já li

 
At 12:17 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caros,
Já vi que perdi a escalada à Serra do Socorro em BTT, mas ganhei um empeno na Estrela. Certamente que se chegaram ao Socorro foi porque o Farinha não estava presente, a tentar desmoralizar as tropas como da última vêz ;-) É verdade que houve desviadores partidos ,correntes partidas, furos, quedas e muita lama, mas não era caso para desanimar.
Paulo Borges, esta semana vou ter um GPS emprestado, podes-me enviar para o meu email alguns dos percursos? (garcian@rocketmail.com) Vou tirar esta semana de férias e quero aproveitar para ir ver o campo e dar desgaste ao material.
Um abraço e boas pedalas,
Nuno Garcia

PS: Quanto à bebida do L-Glutamina... eu já andava desconfiado

 
At 8:43 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Parabéns Chicken Little pela crónica. Ri-me à brava.
Em relação ao líquido, informo que é totalmente legal, mas de má qualidade, a avaliar pela péssima subida que fiz.
Quanto ao facto de ter desviado caminho com o P. Sousa por ter os bidões vazios, digo-te que um deles ainda tinha o urânio suficiente (tembém lhe dei umas barritas de marmelada) para que aguentasse o percurso até casa - o homem estava desfeito, mas provou que só os duros é que penetram.
Fico a aguardar a próxima ida ao Socorro, mas aí prometo dar melhor réplica.
Um abraço.

 
At 9:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Pintainho, esta crónica está bem escrita sim senhor. Foi um sábado de magnifico BTT e apesar de haver alguns elementos em má forma física a média de 13km é bem boa.
Pena foi não teres registado algumas quedas do Ricardo e do L-glutamina ao longo da subida à serra do socorro e já agora também devias ter relatado que o Little Chicken meteu o pé no chão na dita subida, havia muitas pedras né?
A paragem no forte acho que foi prejudicial, estávamos muito perto da subida, para a próxima apenas devíamos parar no cimo da serra.
Por agora não me estou a lembrar de mais incidências, mas ao longo da semana mais alguma coisa me irei lembrar.
Para terminar quero manifestar que para mim este passeio foi dos mais agradáveis realizados com o Infantrilhos e em jeito “picadela” quero prestar homenagem ao grande Isidoro, pois foi ele quem salvou a “honra” da brigada dos “canões” hehehe

 
At 4:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Quero aqui deixar um abraço ao grande Paulo Borges e desejar que se restabeleça o mais rapidamente possível para no próximo sábado voltar a pedalar.

 
At 4:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Subscrevo a mensagem do Biker. Espero que te restabeleças, Paulo. A tua boa disposição faz sempre falta. E motiva-me bastante saber que vem alguém atrás na tentativa de me ultrapassar!! Eh, eh.
Nota: o amigo Isidoro, merece os parabéns de todos, pois foi o primeiro elemento do grupo a chegar no passeio de Vila de Rei. No final, deixou-me “afogado” num lodaçal imenso … e não mais se deixou apanhar! Magnífico, como sempre! Só as letras da “burra” … destoam!

 
At 12:11 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Companheiros do trilho

Efectivamente a crónica está excelente! Não só fiquei com pena de não ter partilhado o passeio convosco, como também e principalmente, de não ter dado umas ajudinhas na subida!...Afinal aquilo não é assim tão duro!!!... Prometo que para a próxima não falto.
Quanto ao comentário do meu prezado amigo Nuno Garcia, aconselho-o a deixar de destruir material...,evitando assim pretextos duvidosos para descansar/conseguir respirar, que servem exclusivamente para disfarçar as suas imensas limitações neste tipo de percurso!...
Com um bocadinho mais de treino...tu consegues!!!
HEHEHE

Domingo (Montjunto), a dupla dinâmica Pintainho / Nuno Garcia vai estar como peixe na água no terreno que mais gosta...
Lá estarei para os ver subir...ao longe!...

AB a todos e até Domingo

 
At 12:21 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Com tanta prosa de qualidade sinto-me na obrigação de escrever umas linhas para animar as hostes.
Esta terceira subida ao Socorro foi realmente bastante animada, pena é que a forma de hoje não seja a de outros tempos...com certeza que dignificava melhor o grupo “Cannon”.
È verdade que arrastar aquela pesada âncora está cada vez mais difícil, apesar de tudo, não foi tão mau como eu pensava, tendo em conta que logo à saída do Infantado já me doía as pernas. Apenas me sinto muito satisfeito pelo facto de não ter posto o pé no chão durante toda a subida (excepto quando o Paulo Sousa caiu).
Quero aproveitar para dar os parabéns ao Hugo pela escolha daquele trilho alternativo, depois da subida do tractor (infelizmente desta vez não apareceu).
Tenho pena de não ter podido entrar na picardia final, ainda tive alguma esperança que me dessem alguma trégua para a recta final, mas tal não sucedeu, e lá se foi a minha oportunidade de brilhar...
Espero que o número de participantes se mantenha se bem que ainda há espaço para aumentar ligeiramente, faltaram alguns participantes habituais incluindo Infantrilheiros.
Um Abraço,

Álvaro Vieira

 

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